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Teatro e Dança

Paulo Betti: 50 anos arte, memórias ancestrais e reflexões que inspiram gerações

Daniel Xavier

06/12/2024 9h48

Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri

Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri

“No começo, eu nem sabia que escrevia. Hoje, recomendo a todos que anotem suas ideias. Foi útil para mim, e pode ser para outros. Minha história é a de muitos brasileiros: filho de uma empregada doméstica, criado em uma comunidade simples, com raízes fortes”, conta o ator Paulo Betti ao Jornal de Brasília, sobre as suas vivências cheias de emoções que apresenta em palco.

Paulo Betti, ator, escritor, roteirista e diretor, comemora 50 anos de carreira, contados desde que saiu da Escola de Arte Dramática em 1975. Ele, que vive a arte desde os 16 anos, traz, para a CAIXA Cultural Brasília, o aclamado monólogo Autobiografia Autorizada, com texto e atuação dele mesmo e direção de Juliana Betti e Rafael Ponzi, nos dias 10 e 11 de dezembro. Atualmente, com 72 anos, Paulo nasceu em 1952, em Rafard, no interior de São Paulo. Aos 3 anos, mudou-se para Sorocaba (SP), onde viveu até os 20 anos.

Em seguida, ingressou na Escola de Teatro da Universidade de São Paulo, onde se formou na EAD USP (Escola de Arte Dramática). “Eu nasci em uma senzala no interior de São Paulo, fui criado entre quilombolas. A história da imigração italiana a por esse lugar. Meus avós chegaram ao Brasil em 1889, para substituir a mão de obra escrava liberta. Minha história é curiosa, pois minha família era de italianos brancos que trabalhavam em uma fazenda de propriedade de um homem negro”, revela.

Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri
Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri

Ao levar os reflexos vivido no quilombo para o teatro, Paulo lembra de vários momentos, entre eles a participação em batuques, os alimentos culturais, problemas sociais, a alegria da comunidade e até a própria tristeza. Foi caminhando sob quatro ruas do vilarejo, esburacadas e cheias de poeiras, que chegou às boas escolas públicas que conseguiu. “Tive privilegio, percebi com o tempo. Estudei em escola pública, que no tempo era difícil. Não me lembro de ver meus amigos negros em sala de aula comigo. O fato de eu ser branco me favoreceu, meus amigos não tiveram a oportunidade que tive, era o puro racismo”, expõe. Os ingressos para o espetáculo poderão ser adquiridos a partir deste sábado (7/12), na bilheteria do teatro, às 9h, ou no site Bilheteria Cultural, às 13h. O espetáculo terá ingressos a preços populares. Esta será a última cidade da turnê.

Memórias anotadas

Em 2015, o desejo de criar um monólogo se tornou uma meta importante para o artista. “Todos os atores veteranos tinham um monólogo”, recorda. “Eu queria ter o meu, mas não me dava conta de que era escritor. Eu não tinha essa percepção”, reflete.

Ainda assim, sua relação com a escrita já era forte. Durante 25 anos, ele manteve uma coluna semanal no jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, cidade pela qual nutre grande carinho. “Em 1992, vivi diversas experiências marcantes, inclusive ganhei uma bolsa de estudos nos Estados Unidos pela Comissão Fulbright. Foi algo muito significativo”, destaca. Durante um ano em Nova York, suas vivências inspiraram uma série de crônicas. “Quando voltei, quis compartilhar minhas experiências, especialmente com o pessoal de Sorocaba, cidade à qual sou muito ligado. Escrevi sobre minhas aventuras como ‘Tarzan em Nova York’ para o jornal, que tinha uma tiragem de 30 mil exemplares”, relembra. Essas crônicas alimentaram a publicação por anos. “Quando o editor disse que eu podia mandar o material, eu já tinha 20 colunas prontas”, conta, mostrando como o hábito de escrever sempre o acompanhou. “Escrevo desde garoto, era uma forma de entender o mundo ao meu redor.”

Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri
Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri

O projeto do monólogo “Autobiografia Autorizada” ganhou impulso durante os ensaios para outra peça. “Meu personagem era de uma classe alta e falava sobre ter uma empregada. Pensei: não me encaixo aqui, minha mãe foi empregada doméstica. Eu devia contar a história dela”, comenta. As anotações pessoais que mantinha diariamente se transformaram na base para o monólogo. Inicialmente, ele até considerou usar um texto de um amigo sobre a morte, mas logo percebeu que precisava contar suas próprias vivências. “Quando comecei a ensaiar, senti que não estava sendo fiel a mim mesmo. Naquele momento, percebi que precisava escrever”, revela. O resultado foi uma obra profundamente autobiográfica.

Ao Jornal de Brasília, o artista comenta o sucesso do livro Autobiografia Autorizada, disponível na Amazon, que já vendeu mais de 700 exemplares em pouco tempo. A obra é uma versão ampliada da peça, com histórias inéditas e reflexões que não cabiam no formato teatral. “O espetáculo é 50% humor, 25% drama e 25% comédia”, resume o autor.

Amor pela arte

“O teatro é tudo para mim. Sou abençoado e condenado a viver nos palcos até o fim da minha vida. O teatro é sagrado, não tenho outra escolha a não ser ser ator, eu amo o que faço. Compartilho essa vida com meus colegas, com o público”, declara Paulo.

Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri
Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri

Sua carreira está profundamente entrelaçada com a história das artes cênicas brasileiras, tendo atuado em dezenas de peças, novelas e filmes. Ele interpretou personagens marcantes, como o guerrilheiro Carlos Lamarca no filme Lamarca (1994) e o icônico vilão redimido Téo Pereira na novela Império (2014).

Além de atuar, Paulo se define como um produtor ativo, sempre criando novas conexões e interagindo com o público de forma autêntica. Ele revela que, durante as apresentações, costuma coletar e-mails e dados de espectadores que tiram fotos com ele, com o objetivo de manter contato e oferecer cursos gratuitos de teatro e adaptação literária online. “É uma maneira de me conectar com o público além dos espetáculos. Quero inspirar outros, especialmente os jovens. No teatro, cada apresentação é uma troca humana e cultural”, afirma, com sua voz sempre envolvente. E para os novos artistas, Paulo deixa um conselho simples, mas profundo: “Subam pela escada e anotem”.

Workshop

O projeto também incluirá um Workshop de Interpretação para Teatro e TV, no dia 11 de dezembro, das 14h30 às 16h30, voltado para artistas e aspirantes das artes cênicas. O objetivo é proporcionar uma introdução às técnicas de interpretação, ritmo e dramaturgia, específicas para TV e teatro. O encontro abordará a relação entre o ator e a câmera ou o palco, destacando a importância do corpo, da voz e da imagem na atuação. Paulo compartilhará histórias dos bastidores da TV e do teatro, oferecendo uma visão prática e enriquecedora. As inscrições podem ser feitas no site da CAIXA Cultural Brasília.

Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri
Paulo Betti em Autobiografia Autorizada. Foto de Mauro Khouri

Autobiografia Autorizada
Dias 10 (terça) e 11 de dezembro (quarta), às 20h, na CAIXA Cultural Brasília (SBS Quadra 4, Lotes 3/4 – Brasília). Classificação indicativa: não recomendado para menores de 10 anos. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Início das vendas: 7 de dezembro (sábado), às 9h, na bilheteria do teatro, e às 13h, no site Bilheteria Cultural. Informações: (61) 3206-6456 | site da CAIXA Cultural

Workshop de interpretação para Teatro e TV
Ministrado por Paulo Betti, dia 11 de dezembro, das 14h30 às 16h30, na CAIXA Cultural Brasília (SBS Quadra 4, Lotes 3/4, Brasília) Início das inscrições: site da CAIXA Cultural. Entrada gratuita.

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