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Teatro e Dança

Dançarino de break é referência de superação do DF para o mundo 

B-Boy brasiliense que venceu um câncer aos 10 anos e conquistou jurados do America’s Got Talent se torna primeiro embaixador da Abrace.

Amanda Karolyne

21/06/2024 5h00

Samuka com um dos assistidos da Instituição, Leonardo Matos Araújo. Foto: Amanda Karolyne.

O dançarino brasiliense Samuel Henrique –– que conquistou a todos com sua participação no America’s Got Talent –– marcou presença, nesta quinta-feira (20), na Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças e Adolescentes com Câncer e Hemopatias (Abrace) em Brasília, o mesmo lugar por onde ou quando lutava contra o câncer. Convidado pela Instituição para ir à Casa de Apoio conversar com as crianças e as mães, que atualmente enfrentam a doença, Samuka é exemplo de esperança e uma referência para os assistidos da organização. Por isso, também recebeu convite para ser o primeiro embaixador da Abrace.

O dançarino recebeu, aos 10 anos, o diagnóstico de Osteossarcoma, câncer ósseo, em uma das pernas. Ele iniciou o tratamento no Hospital de Apoio e no Hospital da Criança de Brasília José Alencar, em seguida, foi encaminhado para a Abrace. Agora, em seu retorno, Samuka foi recebido com uma torta especial de aniversário, já que o B-Boy (como são chamados os dançarinos de break) completou 27 anos em 19 de junho. Além disso, junto às crianças, às famílias e aos voluntários, comemorou toda a jornada dele até ali.

Samuka recebeu o convite para atuar como embaixador da Abrace com muito carinho. “Depois de superar todo o tratamento de câncer, sempre tive um débito em meu coração alimentado pelo desejo de poder fazer mais pelas pessoas que sofrem com o que eu já sofri”, conta. Ele, que já tinha vontade de visitar a instituição, aproveitou sua vinda ao Brasil para matar a saudade da família e comparecer à Casa de Apoio, no Guará II. “É uma realização pessoal enorme me tornar referência para essa galera e, futuramente, poder ajudar de todo jeito que puder”, garante.

O B-Boy nasceu no Recanto das Emas e se sente honrado por ser representante da periferia do DF. “É algo massa demais, porque a quebrada em geral é cheia de talento que às vezes se perde por falta de incentivo”. Samuel se considera sortudo porque o projeto social “Expresso Ação” o abraçou na hora certa. E mesmo depois de amputar a perna, continuou a sonhar e a treinar o break. “É muito gratificante poder ser cria daqui do DF, e agora estar no mundo ganhando atenção, e ter a oportunidade de usar essa atenção para o que importa.”

Talento que vai longe

Um artista completo, atualmente, o dançarino de break mora na França, onde participa de um grupo de dança. Dentre muitas das realizações, como ter sido campeão brasileiro no Parapan juvenil, Samuka já participou do filme Dançarina Imperfeita, da Netflix, e é um dos concorrentes do America’s Got Talent, com final prevista para setembro.

Segundo ele, a participação no reality show foi uma loucura e, também a realização de um sonho. O seu vídeo no programa de competição de talentos repercutiu nas redes sociais. Ele teve a oportunidade de conhecer Terry Crews, o apresentador da competição, artista que Samuel é um grande fã, e o ator também compartilhou a gravação. “E já foi uma realização poder ver Terry Crews, o Julius de Todo Mundo Odeia o Chris. Eu estava muito nervoso, mas vivi um momento muito massa no palco”, avalia.

Esperança para as outras mães

A mãe de Samuel, Edilene Silveira, 42 anos, recorda-se sobre a terrível descoberta do diagnóstico do filho. “Não é fácil para ninguém, mas aos poucos fomos conciliando as coisas”. Edilene recebeu a notícia de que Samuka tinha câncer, 15 dias após o filho mais novo ser diagnosticado com uma doença crônica. E, agora, estar de volta à instituição que acolheu seu filho no ado, é como assistir a um filme de todo o sofrimento que enfrentaram. “E também um misto de sentimentos de alegria e orgulho de saber que tudo ficou para trás, que valeu a pena lutar”, reforçou.

Edilene nunca quis tratar Samuka de modo diferente em razão da perna amputada. Para ela, o filho é um meteoro de tão especial, mas não no sentido de que não poderia fazer nada dadas às condições. “Ele pode fazer tudo o que quiser. É como ele sempre diz: o limite está na nossa cabeça”. Com muita alegria por estar vivenciando toda a jornada do filho, ela reflete: “tem algo mais gratificante que conversar com alguém, e poder olhar nos olhos dessa pessoa e ar esperança?”.

Com esse sentimento de olhar para um futuro brilhante e cheio de possibilidades, Nayara Vanderlei Araújo, a mãe de uma das crianças atendidas pela Abrace, emocionou-se ao falar o que a presença de Samuka significou para ela e seu filho Daniel Benicio, de cinco anos. Daniel foi diagnosticado, aos sete meses de vida, com rabdomiossarcoma embrionário, um tipo de câncer raro proveniente de células mesenquimais embrionárias.

Os dois vieram de Roraima para dar seguimento ao tratamento na Abrace. “Eu me emocionei com o relato da mãe dele também, porque é a mesma história de vida que a gente está ando. E eu falo para as meninas: olha, vocês estão nessa fase, mas vai melhorar. Tudo isso vai ar”. Daniel se enturmou com Samuka desde o início do evento. Hoje, o menino está fazendo acompanhamento médico e os resultados estão sendo bastante positivos. “Ele é um milagre de Deus para mim”, completa Nayara.

A vice-presidente da Abrace, Lisa Marini Ferreira dos Santos, reforça que Samuka é um exemplo de superação. “Nosso objetivo final aqui é que as crianças tenham a oportunidade de vencer o câncer, continuar tocando a vida e realizar o sonho delas”, afirmou. Logo, Lisa reflete que é maravilhoso poder receber na instituição alguém que ou por lá anteriormente e venceu a luta contra o câncer, apesar das dificuldades. “Essas dificuldades existem e todos nós temos. E ele soube enfrentar isso com excelência. Para a gente, tê-lo aqui é a demonstração clara de que existe esperança”.

A Abrace oferece apoio aos pacientes em tratamento contra o câncer infantojuvenil e aos seu familiares há 38 anos. Atualmente, assiste 861 crianças e suas famílias. Em 2023, a instituição ganhou o prêmio de Melhor ONG do Distrito Federal.

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