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Exposições

Lucia Laguna transforma paisagem da janela em matéria-prima de exposição

A artista baseia suas obras na paisagem ao redor de sua casa

Redação Jornal de Brasília

19/02/2025 10h34

paisagem nº 156

‘Paisagem nº 156’, de Lucia Laguna – Eduardo Ortega/Fortes D’Aloia & Gabriel

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A artista Lucia Laguna verteu em pintura a paisagem de sua janela, trazendo o espaço público para dentro do âmbito doméstico.

Isso está evidente no quadro “Paisagem nº 158”. Na obra, Laguna concebeu um cenário de cores exuberantes e formas desordenadas ao sobrepor árvores, flores e telhados. Exercício parecido ela fez nos outros 11 quadros que compõem a exposição “A Propósito de Duas Janelas”, em cartaz na galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

São trabalhos que refletem um período de transição na vida da artista. Ela morou por mais de 30 anos no bairro São Francisco Xavier, no subúrbio carioca. Foi nessa localidade que ela desenvolveu a carreira, criando uma miscelânea de tons, cenas e objetos a partir do que via pela janela.

Era uma paisagem composta, por exemplo, pelo Morro da Mangueira, símbolo do samba e reduto de Cartola, Jamelão e Dona Zica. Em 2024, porém, ela se mudou para Laranjeiras, na zona sul carioca. Isso alterou a paisagem do seu entorno e, consequentemente, o seu fazer artístico.

“Na outra casa, eram cinco janelas e, agora, são duas. Houve uma redução e, por isso, dei o título à exposição de ‘A Propósito de Duas Janelas’, diz a artista, acrescentando que a mudança teve aspectos positivos.

“Agora estou no terceiro andar, em cima da copa de árvores enormes e muito bonitas. É um panorama de vários tons de verde”, diz ela.

A influência da natureza se faz sentir em todas as obras da exposição. É o caso de “Paisagem nº 156”, em que vemos árvores frondosas em meio a um matagal luxuriante. De certa forma, as obras fazem lembrar a placidez das paisagens de Cezanne.

No entanto, diferente das obras do francês, os trabalhos de Laguna carregam elementos que destoam e causam estranhamento. Em “Paisagem nº 156”, a artista inseriu formas geométricas com cores vibrantes, como vermelho e laranja.

Outras obras incluem também linhas, faixas e grades. É como se essas formas rígidas tentassem ordenar uma natureza caótica. Laguna diz que a sobreposição de itens em seus quadros é resultado do modo como enxerga a paisagem a partir da janela.

“Vejo as casas de uma distância muito grande, então não consigo distinguir as coisas. Quando chove ou quando a luz do Sol muda, a paisagem também fica com um formato diferente”, afirma a artista, que já teve exposições individuais no Museu de Arte de São Paulo, o Masp, e no Museu de Arte do Rio, o Mar. Além disso, participou da Bienal de São Paulo, em 2012.

Antes de se dedicar à arte, Laguna trabalhava como professora de português e literatura em escolas públicas do Rio. Aos 54 anos, após se aposentar, decidiu entrar na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Jardim Botânico, zona sul da cidade.

Ela lembra que estava no ônibus quando viu a instituição. Curiosa para saber do que se tratava, deu sinal e desceu do veículo. Acabou se matriculando no espaço, onde permaneceu por cerca de dez anos.

“No começo, eu fazia pinturas com figuras mais retilíneas, que lembravam construções. Às vezes, usava também os outdoors da avenida Presidente Vargas como inspiração para pintar”, diz ela, que transformou as ruas em projeto estético. “A janela é de fato o ícone da minha pintura.”

A PROPÓSITO DE DUAS JANELAS
– Quando Ter., a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 18h. Até 22 de março
– Onde Fortes D’Aloia & Gabriel – Rua James Holland, 71, Barra Funda
– Preço Grátis
– Classificação Livre

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