Patrocinado pela Caixa Cultural, o evento “Comunicação Antirracista: Consciência, Resistência, Ação” acontece no Museu Nacional da República neste sábado. A programação conta com roda de debate e convidados do ativismo indígena e negro, tais como Midiã Noelle, Rodrigo França, Deives Rezende, Ana Paixão, Erisvan Guajajara, Ayla Tapajós e Ilka Teodoro. O encerramento fica por conta da banda Brisa Flow.
O objetivo do evento é promover o diálogo sobre antirracismo e o papel da comunicação na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. “Eu acredito que a linguagem e os canais de informação são vetores essenciais para desafiar os estereótipos e ampliar vozes historicamente silenciadas. Quando uma instituição revisita seus discursos, escolhe pautas e adota uma escuta ativa, ela cria fissuras na ‘verdade única’ construída pela cultura hegemônica.”
“Em vez de reproduzir manuais racistas de representação — que reduzem a experiência negra a episódios de violência ou caridade —, uma comunicação antirracista problematiza essas narrativas e oferece referências positivas de protagonismo, pluralidade e ancestralidade. Dessa forma, ela deixa de ser apenas a forma de transmitir uma mensagem e a a ser um instrumento de reparação simbólica, capaz de reescrever a história a partir da perspectiva daqueles que sempre estiveram à margem”, explica o organizador Davi de Carvalho.
Sobre as artes e os meios ancestrais como formas de fortalecer uma comunicação mais inclusiva e transformadora, Davi esclarece: “Ao dialogarmos com as matrizes africanas e indígenas, há indícios de que estamos criando símbolos de resistência estéticos — seja na escolha de uma paleta de cores, na sonoridade de vozes ancestrais ou no ritmo visual que remete a cerimônias tradicionais. Esses elementos, colocados em primeiro plano, podem enriquecer nossa forma de comunicar, oferecendo referências que vão além do conteúdo factual. Essa interlocução com saberes tradicionais estimula uma escuta mais ativa. Em vez de consumir informação de modo acelerado e superficial, somos convidados a desacelerar, estabelecendo um diálogo intergeracional que valoriza a experiência de quem herdou esses conhecimentos.”
Ainda sobre os saberes ancestrais, a pesquisadora Ilka Teodoro detalha: “Os saberes ancestrais negros e indígenas são contra-hegemônicos em essência. Desafiam, inclusive, os meios de comunicação tradicionais, pelos pilares da oralidade e dos rituais.”
A proposta do projeto é fomentar um debate sobre as injustiças raciais e o que pode ser feito para combatê-las. Ilka explica que a mudança deve ocorrer para além do campo da comunicação: “Em todos os campos, não só na comunicação. Já que o racismo estrutura tudo, como ser antirracista numa sociedade racista? Creio que a comunicação e a educação são algumas das múltiplas chaves que podem abrir a porta dessa transformação. Da mesma forma que operam a partir do dispositivo, podem operar contra ele, construindo um imaginário coletivo diferente.”

Por fim, Davi de Carvalho ressalta que a importância de um evento como este está em aproximar o público das discussões sobre inclusão e promover transformações: “Trata-se de repensar, de modo sistêmico, como todas as instituições se comunicam sobre raça. O GTI de Comunicação Antirracista, criado por decreto em novembro de 2023, é uma referência concreta desse esforço na esfera pública federal, mas ele só ganha força se inspirar e dialogar com práticas de comunicação antirracista que já vêm surgindo em empresas e organizações sociais. No setor privado, por exemplo, já vimos marcas como a Natura e a Unilever Brasil assumirem pautas de representatividade negra em campanhas do Dia da Consciência Negra — não apenas convidando talentos pretos para anúncios, mas também produzindo guias internos de linguagem inclusiva, treinando suas equipes de marketing e criando métricas para acompanhar os resultados.”
“O Itaú, por sua vez, lançou programas de formação e cartilhas de estilo para garantir que discursos sobre educação e cultura valorizem narrativas negras de forma consistente ao longo do ano — não só em novembro. Essas ações mostram como a comunicação antirracista deixa de ser ‘algo a mais’ e a a integrar a estratégia de marca, gerando maior engajamento com públicos diversos e construindo uma reputação de autenticidade.”
“Comunicação Antirracista: Consciência, Resistência, Ação”
Data: 31/05
Horário: das 15h às 19h30
Local: Museu Nacional da República
Todas as mesas contarão com tradução em libras
Entrada Franca
Classificação: Livre