VICTORIA AZEVEDO
FOLHAPRESS
Integrantes do governo Lula (PT) querem ampliar a exposição do presidente, em mais um esforço de comunicação para recuperar a popularidade do petista. O plano é aumentar a participação de Lula em eventos e entrevistas, com o objetivo de expandir o alcance das ações do governo.
Uma pesquisa encomendada pelo Palácio do Planalto mostrou que a grande maioria dos entrevistados gostaria de ouvir mais o presidente.
Na interpretação de assessores, o resultado sugere que as mensagens do governo não têm chegado ao público e que haveria espaço para uma ofensiva concentrada na figura de Lula.
Nesse sentido, entrevistas coletivas com o petista, como a que ocorreu nesta terça-feira (3), devem ser mais frequentes, segundo dois auxiliares do presidente.
A estratégia segue uma lógica desenhada por Sidônio Palmeira ao assumir a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência. Para o ministro, o presidente da República deve ser o “motor do conteúdo” da comunicação do governo.
O governo já havia ensaiado outras apostas nesse mesmo sentido.
Em janeiro, Lula convocou uma entrevista na esteira de episódios que tinham gerado degastes à imagem do Executivo. Naquele momento, a Secom havia manifestado a intenção de fazer esse tipo de encontro com maior frequência, o que não ocorreu.
A entrevista da última terça-feira foi acompanhada por Sidônio, que fazia sinalizações a Lula enquanto seguia um roteiro em documento que levava às mãos. Após as declarações do presidente, auxiliares apontaram que pretendem retomar aquele plano.
A equipe de Lula também quer ampliar a vinculação da imagem do presidente ao lançamento e à divulgação de programas do governo. Há uma aposta de integrantes do Executivo em medidas sociais do governo com apelo para recuperar a popularidade do petista.
Auxiliares falam em organizar a divulgação de novos programas a cada mês, pelo menos. Um dos objetivos é evitar que um programa ofusque outro.
Recentemente, o evento de relançamento de programa do Ministério da Saúde para redução da espera por consultas e procedimentos especializados pelo SUS foi adiado por uma semana para evitar a proximidade desse anúncio com a da medida provisória que amplia a isenção do pagamento da conta de luz para até 60 milhões de brasileiros.
O esforço ocorre num momento em que o petista mantém altos índices de rejeição. Segundo pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (4), a avaliação negativa do governo é de 43%, e a positiva, de 26%. Consideram a gestão regular 28%, e 3% não sabem ou não responderam. As taxas estão no pior patamar do mandato.
As projeções feitas pela Quaest para a eleição presidencial de 2026 também mostraram Lula em dificuldades. O petista perdeu vantagem e agora empata tecnicamente em simulações de segundo turno contra Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ratinho Junior (PSD), Eduardo Leite (PSD) e Michelle Bolsonaro (PL).
Dois ministros ouvidos pela reportagem afirmaram que os números eram esperados pelo governo. Pesquisas internas haviam apontado que o escândalo do INSS neutralizou o esforço de recuperação da avaliação do presidente que vinha sendo feito pelo governo nos últimos meses.
O levantamento da Quaest apontou ainda que 31% dos entrevistados disseram que o principal responsável pelos descontos ilegais é o “governo Lula”, 14% culparam o INSS e 8%, o governo Jair Bolsonaro (PL).
Um auxiliar do presidente diz que a fatia de 31% dos entrevistados corresponde ao eleitorado fiel de Bolsonaro e, portanto, o resultado não chama a atenção.
Ele reconhece, no entanto, que a baixa porcentagem de entrevistados que culpam a gestão anterior acende um alerta, sugerindo que o discurso adotado pelo Planalto de que as ilegalidades começaram no governo Bolsonaro não foi incorporado pela sociedade.
Esse aliado do petista afirma que um dos principais desafios do governo ainda é a disputa nas redes sociais, com a direita à frente nesse campo. Ele afirma que é preciso redobrar os esforços e vê a possibilidade de o presidente falar mais à população como uma maneira de ocupar esses espaços.
Outra estratégia discutida por parlamentares e integrantes do governo é reforçar a presença de Lula em viagens pelo Brasil. O próprio petista deu declarações públicas afirmando que voltaria a rodar o país para combater o que classifica como “indústria de fake news”.
Um ministro diz que reconhece a dificuldade do Executivo para transformar o resultado dos programas sociais do governo e dos índices econômicos em números positivos para a gestão petista. Ele minimiza, no entanto, o risco para 2026, afirmando que ainda há tempo para reverter o cenário e apostando nos programas que ainda serão lançados pelo Executivo.
Além do pacote citado por próprio Lula na terça (3), como a linha de crédito para reformas das casas, esse auxiliar cita medidas que ainda estão sendo discutidas pelos parlamentares e que, portanto, ainda não tiveram impacto na popularidade do Executivo. Entre elas, está a proposta de isenção do IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5.000 por mês.
Outro auxiliar do petista diz esperar ainda que os números de popularidade de Lula podem sofrer um efeito positivo com a recuperação da safra agrícola e uma consequente queda no preço dos alimentos. Esse mesmo aliado afirma que a melhoria da percepção sobre a economia, indicada na pesquisa desta quarta, traz um certo alívio para o governo e indica que a percepção negativa da gestão pode ser revertida.