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Sucessão e poder

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16/12/2024 5h00

arthur lira (5)

Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

A imagem do deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara Federal, é de um ser com ideias, concepções, conceitos e pensamentos pra lá de concretos. Hoje, ele pode reivindicar para si o protagonismo da comédia Trair e coçar é só começar, escrita por Marcos Caruso e que vem sendo encenada desde 1986. Craque nos acordos de bastidores e, junto de outros membros do Centrão, no emparedamento de governos sem base sólida na Casa, o atual czar das Alagoas é um homem com poderes até o topo do pote.

Como todo poderoso, Lira sabe que, quando a proposta é vencer a qualquer preço, a suposta honestidade precisa ser jogada no lixo. É dessa forma que o jogador será sempre um vencedor. Em outras palavras, o político que não faz o jogo sujo de interesses pode contar seus dias no exercício do poder político. No entanto, as voltas da vida costumam ferir com ferro aqueles que com ferro um dia feriram. Mestre na arte de negociar votos contra ou a favor de alguém ou de alguma coisa, Arthur Lira jogou fichas de todos os matizes para garantir, em fevereiro de 2025, a vitória de um aliado de copa e cozinha na sucessão da Casa.

A intenção é clara até para um menino do Maternal II: deixar o cargo, mas manter o poder. Como não há mágica para se produzir uma omelete sem quebrar os ovos, o parlamentar alagoano teve de trair. E traiu quem lhe demonstrava ser o melhor e mais fiel dos “amigos” congressistas. Refiro-me ao líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), trocado em uma madrugada sem chuva pelo líder do Republicanos, deputado Hugo Mota (PB). Um pote até aqui de mágoa, Elmar parece ter se convencido antecipadamente da derrota. Jamais da traição.

Não o conheço, mas duvido que, igual a todos os que aram por isso, ele não ache que o traído de hoje é o traidor de amanhã. Marinheiros de muitas viagens, tanto Arthur Lira quanto Elmar Nascimento sabem que a proporção do amor dos políticos pela traição tem o mesmo peso do ódio pelo traidor. Vale dizer que, no jogo do poder, as feridas que não cicatrizam voltam a sangrar quando menos se espera é comumente ao som de palavras. É um jogo de xadrez. O rei ganha, ganha e ganha até o dia em que leva xeque-mate.

Nesse dia ele perceberá que seu pior inimigo não é, nunca foi e nunca será um de seus correligionários ou um de seus companheiros de partido. Ele será sempre sua mente, pois ela conhece todas as suas fraquezas. Hugo Motta virou o preferido de Arthur Lira porque, segundo o próprio Lira, “ele respeita o plenário e cumpre a palavra empenhada nas negociações políticas”. Se o respeito do afilhado for um pouquinho parecido com o do padrinho, o Brasil e o presidente da República estarão em maus lençóis. É pagar para ver.

Armando Cardoso, jornalista 

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