FÁBIO PESCARINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado) multou em R$ 370 mil cada uma das duas empresas responsabilizadas pelo acidente ambiental que pintou de azul um dos lagos do parque Parque Botânico Tulipas Professor Aziz Ab’Saber, em Jundiaí (a cerca de 58 km de São Paulo), após derramamento de corante no mês ado.
Mais de cem peixes morreram. Patos, gansos e capivaras, entre outros animais, acabaram tingidos de azul. Por causa do acidente, o lago teve de ser esvaziado.
A carga com 2.000 litros do produto químico estava em um caminhão que bateu em um poste próximo ao parque e se espalhou quando a carroceria tombou. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público.
Segundo a Prefeitura de Jundiaí, devido à grande quantidade derramada, o produto escoou até uma boca de lobo localizada a cerca de 50 metros do local do impacto. Ela tem ligação direta com o córrego do Jardim das Tulipas, que atravessa o parque do bairro e deságua no rio Jundiaí, que vai para cidades vizinhas, como Itupeva, Salto e Indaiatuba.
Foram multadas a empresa Farkon, responsável pela produção do corante que vazou no parque, e a Singular Envio Logística Integrada, transportadora dona do caminhão.
As duas empresas foram procuradas na noite desta quarta-feira (4) pelos números de telefones que constam em seus sites, mas ninguém atendeu. Também não responderam aos emails enviados pela reportagem até a publicação deste texto.
As infrações foram aplicadas pela Cetesb na última segunda-feira (2).
No último dia 29 de maio, a indústria química publicou uma nota em seu site, dizendo que a carreta que transportava seis toneladas de corante líquido verde não pertencia à empresa. “Aparentemente houve algum defeito no caminhão, pois já estava parado há mais de 50 minutos no mesmo local, sem movimentação até o momento do acidente”, disse trecho do texto.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, o motorista, de 49 anos, relatou que havia estacionado o veículo em uma via com declive, quando o caminhão começou a descer sozinho e acabou colidindo contra o poste.
Na nota, a Farkon disse ter acionado as autoridades competentes e uma empresa de gestão ambiental, com quem tem contrato para prevenção e reparação de incidentes envolvendo questões ambientais, “mesmo não sendo a responsável direta pelo acidente, como solução de agilidade para o ocorrido”.
“O corante líquido do acidente não é classificado como inflamável e reativo, não provocando nenhum perigo específico crítico, tendo em vista ser a base de água”, afirmou a empresa.
Além das multas, conforme a Cetesb, o fabricante deverá adotar medidas de segurança para prevenir novos acidentes, incluindo sistemas de contenção e protocolos de carga e descarga, processo que será acompanhado pela companhia ambiental.
Não existe multa municipal para acidentes ambientais como esse, mas há um projeto sobre o tema em discussão na Câmara Municipal.
Cláudio da Cunha, coordenador da Faculdade de Tecnologia em Gestão Ambiental da Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Jundiaí, explicou que o produto químico que vazou no lago é o corante verde malaquita, que tem coloração variada, dependendo das condições de acidez e concentração
Em baixa concentração, explica, a toxicidade é pequena. “Entretanto, quando ela é muito alta, começa a entrar na categoria de substâncias tóxicas”, afirmou o professor. “Pode produzir alterações nos genes e se tornar cancerígena.”
O problema, disse Cunha, é que é difícil mensurar quanto tempo levará a recuperação ambiental, pois é um acidente inédito. “Não há precedentes para comparação.”
Em nota enviada na semana ada, a Cetesb afirmou que os laudos das amostras de água coletadas indicaram toxicidade aguda das águas do lago, compatível com os impactos observados.
“No rio Jundiaí, embora tenha havido um pequeno extravasamento de corante, não houve impacto na qualidade da água”, afirmou.