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Brasília

Vício em álcool de posto leva trabalhador às ruas

Marcado por traumas, Francisco José pede ajuda ao JBr para conseguir se internar em uma clínica de reabilitação

Redação Jornal de Brasília

12/05/2025 5h00

Atualizada 11/05/2025 19h03

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Francisco José. – Foto: Jeferson Legal/Jornal de Brasília

Por Daniel Xavier e Jeferson Legal 

Por trás de um olhar cansado, mãos calejadas e a voz embargada por traumas do ado, está Francisco José Silva de Lucena, de 52 anos, mais conhecido como Zorea. Ele não é apenas mais um rosto entre os tantos que habitam as ruas do Distrito Federal — é um homem com história, profissão, fé e, sobretudo, esperança.

Depois de mais de três décadas dependente do álcool, Francisco chegou ao fundo do poço: hoje, consome até álcool de posto para tentar dormir e esquecer a dor que o acompanha desde a infância. Durante uma conversa com a equipe do Jornal de Brasília, nas proximidades do Hospital Regional do Gama, Francisco se aproximou pedindo ajuda.

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Foto: Jeferson Legal/Jornal de Brasília

A princípio, o pedido parecia bem comum: ele queria dinheiro para comprar uma bebida. No entanto, ao compartilhar sua trajetória e o nível extremo de dependência, a situação ganhou outro peso. Zoreia não queria mais beber, quer ajuda. E pediu, com humildade, uma nova chance. “Estou aqui porque não aguento mais. Sou viciado em álcool há 34 anos. Quando não tem pinga, bebo álcool de posto, porque me apaga mais rápido, me faz esquecer. Só que não dá mais para continuar”, conta ele, emocionado.

Francisco cresceu em um ambiente tomado pela violência doméstica e o alcoolismo. Ainda criança, viu o pai tirar a vida da própria mãe durante uma briga causada pelo vício. O trauma, segundo Zoreia, foi o ponto de partida para repetir o mesmo ciclo do pai. “Eu achava bonito meu pai beber. Ele tomava aquele gole, soltava a fumaça do fumo, e eu imitava. Hoje eu vejo que não tinha nada de bonito nisso. Isso acabou com a vida dele. E tá acabando com a minha”, desabafa.

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Foto: Jeferson Legal/Jornal de Brasília

Brasília é a segunda capital do país no ranking de consumo excessivo de álcool. Em 2024, os moradores do DF gastaram mais de 650 milhões de reais com bebidas alcoólicas, segundo dados do IPC Maps, que analisa o perfil dos consumidores brasileiros. Em apenas um ano, o aumento foi de 27%. No mesmo período, a Justiça brasileira recebeu mais de 380 mil processos relacionados à violência contra a mulher — isso, só nos cinco primeiros meses do ano.

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Foto: Jeferson Legal/Jornal de Brasília

Profissional capacitado, mas refém do vício

Apesar de viver nas ruas há cerca de dois meses, Francisco não perdeu suas habilidades. Ele é serralheiro, pedreiro, carpinteiro, eletricista, bombeiro hidráulico — um verdadeiro “marido de aluguel”, como ele mesmo define. Suas mãos, cheias de calos e feridas, são a prova de anos de trabalho duro. “Eu pego uma casa do chão e entrego na chave. Só preciso de uma chance”, afirma.

Mesmo com pouco, Francisco ainda tenta manter a dignidade. “Eu tô na rua, mas ando limpo. Me cuido. Não sou qualquer um largado por aí. Só que tem uma coisa que me prende: o álcool. E isso eu não consigo vencer sozinho”, desabafa.

Pedido de perdão e recomeço

Francisco deixou a casa onde vivia há dois meses para não causar mais sofrimento à esposa Zenir e aos filhos Laune e Leonardo. “Minha esposa é testemunha de Jeová. Meus filhos são estudados, criados com amor. Eu saí para não ser um peso. Com o consumo de álcool excessivo, eu estava ficando agressivo”, revela. “Hoje, se eu pudesse dizer algo para eles, seria: me perdoem. Me perdoem por tudo. O pai aqui quer voltar a ser o que era. Um homem digno, trabalhador. Quero sair disso”, pede perdão a família, enquanto segura as lágrimas.

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Gama, DF. – Foto: Jeferson Legal/Jornal de Brasília

Ele já ou por uma casa de recuperação em 2001, mas não conseguiu manter-se longe do vício por muito tempo. Agora, diz estar pronto para lutar com fé e disciplina. “Só peço uma casa de recuperação. Que não tenha álcool, nem cigarro, mas que tenha a palavra do Senhor. Conheço a palavra. ei oito anos firme na igreja. Eu sei que posso me levantar com Deus e com a ajuda de quem acreditar em mim”, expressa Francisco.

Ajuda urgente

A situação de Francisco é grave, pois o rapaz, consome substâncias altamente tóxicas, como o álcool etílico vendido em postos de gasolina, o que pode causar falência múltipla de órgãos, cegueira e morte súbita. Ele sabe do risco. Mas, como afirma, não vê outra saída a não ser pedir ajuda. Francisco oferece até os R$ 300 que recebe do governo para colaborar com a sua própria recuperação. “É o que eu tenho, mas quero usar isso para me libertar”, diz.

Quem quiser oferecer ajuda, seja com uma vaga em uma casa de recuperação, apoio espiritual, atendimento médico ou qualquer outra forma de amparo,  pode entrar em contato diretamente pelas redes sociais do JBr. A identidade e localização exata dele serão preservadas por segurança, mas ele está disponível e comprometido a seguir o tratamento.

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