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Futebol ETC
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O futebol brasileiro reativou o modo “complexo de vira-latas”

Marcondes Brito

02/06/2025 5h34

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Reprodução/Montagem

No meio da semana ada, na saída do Maracanã, após a vitória do Flamengo sobre o Deportivo Táchira pela Libertadores, o meia Gerson foi surpreendido com uma pergunta ousada: poderia ele, agora convocado por Carlo Ancelotti, ser para a Seleção Brasileira o que Modric e Kroos foram para o Real Madrid?

A resposta foi sincera — e talvez por isso mesmo, desconcertante:

“Pô, quer me comparar com os caras lá? Não tem como, é outro nível.”

Gerson não tentou florear. Não disse que um dia chega lá. Não falou em evolução, ambição ou comparação possível. Simplesmente se colocou em outro patamar, abaixo. E ponto.

A primeira reação pode até ser de elogio à honestidade. E de fato, ele foi verdadeiro. Mas o que salta aos olhos é o conformismo. Gerson não é culpado por isso — pelo contrário, representa com clareza uma geração que parece ter internalizado que o Brasil já não é mais protagonista. Nem no clube, nem na seleção.

O que houve com o país que já produziu Pelé, Garrincha, Tostão, Rivellino, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Zico, Ronaldinho, Kaká? Onde foi parar a autoconfiança de um futebol que se colocava na prateleira de cima com naturalidade, porque de lá era — e fazia por merecer?

Hoje, salvam-se dois ou três. Neymar, quando está em forma. Vinícius Júnior, que brilha só no Real Madrid. O resto? Medianidade cercada por manchetes exageradas, vídeos nas redes sociais e expectativa inflada.

Gerson, com sua fala, apenas vocaliza o que muitos já sentem e aceitam: o Brasil não é mais referência. E o pior é que parece não haver incômodo com isso. A própria imprensa trata esse rebaixamento simbólico como natural. Os torcedores também já não se indignam como antes. Tudo parece parte de uma nova e melancólica normalidade.

É como se estivéssemos vivendo uma reencarnação do complexo de vira-latas que nos acompanhou até a Copa de 1958. Só que agora, além de talento, falta ambição. Falta cobrança. Falta projeto. Falta grandeza.

Gerson foi só sincero. Mas sua sinceridade é um espelho incômodo: o Brasil já não sonha em ser Modric. E nem sequer se sente mal por isso.

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A coluna Futebol Etc na edição impressa do Jornal de Brasília, nesta segunda-feira (2/6)

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