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Cinema com ela
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“Esquema Fenício” mantém o estilo de Wes Anderson, mas perde em originalidade

O filme chega aos cinemas nesta quinta-feira (29), trazendo uma trama de humor e intrigas que não alcança a profundidade de outras produções do diretor

Tamires Rodrigues

29/05/2025 5h00

Atualizada 28/05/2025 23h59

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Foto: Divulgação/Universal Pictures

“Esquema Fenício”, a mais recente incursão de Wes Anderson no universo de comédias excêntricas, é, sem dúvida, uma peça estilisticamente impecável, mas que carece da profundidade emocional e da inventividade visual que tornam o cineasta um dos favoritos da crítica e do público. Com sua direção meticulosa e a preocupação habitual com cada detalhe de cenários e figurinos, o longa que chega aos cinemas nesta quinta-feira (29), é uma autêntica vitrine do estilo inconfundível de Anderson, mas, desta vez, o feitiço parece não funcionar tão bem.

O título enigmático, “Esquema Fenício”, se refere a um plano mirabolante e complexo orquestrado por Zsa-Zsa Korda (Benicio Del Toro), um magnata determinado a monopolizar uma nação fictícia do Oriente Médio. Seu objetivo: controlar a economia local através de empreendimentos em mineração, transporte e pesca, tudo à custa de um sistema de exploração brutal. No entanto, o que poderia ser uma trama intrigante sobre ganância e manipulação se transforma em um jogo de marionetes onde o enredo se perde em uma sucessão de eventos desconexos.

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Foto: Divulgação/Universal Pictures

Apesar de contar com um elenco de peso, como Tom Hanks, Willem Dafoe e Scarlett Johansson, que aparecem em participações quase caricatas e sem qualquer grande impacto, o filme sente a falta de uma força central mais sólida. O ator Benicio Del Toro, com sua performance exagerada, não consegue salvar um personagem cuja motivação parece ser mais uma desculpa para os jogos de poder do que uma construção profunda de personagem. Já Mia Threapleton, filha de Kate Winslet, brilha em sua interpretação de Liesl, uma noviça relutante que se vê, à medida que o filme avança, mais envolvida nos negócios da família. Sua presença cativa, mas também deixa claro que o filme perde algo crucial ao não aprofundar o papel da jovem herdeira.

A presença de Michael Cera, interpretando Bjorn Lund, um apaixonado tutor norueguês da família Korda, oferece uma pitada de leveza, mas a relação dele com Liesl nunca se desenvolve de forma satisfatória. A relação deles poderia ter sido mais explorada para trazer um contraponto emocional ao tom de puro humor negro do filme. Cera parece perdido em um papel que não exige muito de seu talento.

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Foto: Divulgação/Universal Pictures

A narrativa de “Esquema Fenício” é, em muitos aspectos, um desfile de excentricidade e piadas visuais, características consagradas no estilo de Anderson. O filme segue o formato peculiar de seus outros trabalhos, com uma paleta de cores vibrantes e composições simétricas que são agradáveis aos olhos, mas que, no contexto de uma trama mais fechada e contida como esta, acabam se tornando quase um fetiche visual, sem realmente agregar à experiência. A direção de arte, sempre cuidadosa, não é suficiente para tornar o filme memorável.

O elenco de apoio, embora talentoso, também não tem muito espaço para brilhar, e personagens como a prima Hilda (Scarlett Johansson) e o manipulador tio Nubar (Benedict Cumberbatch) parecem simplesmente ocupar o cenário, sem nunca alcançar uma profundidade que justifique a escolha dos atores. O que se vê é um conjunto de performances que estão lá apenas para sustentar uma narrativa frágil, sem grande desenvolvimento.

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Foto: Divulgação/Universal Pictures

No campo das ideias, “Esquema Fenício” tenta, sem sucesso, abordar temas de poder, corrupção e luta pela sobrevivência, mas a abordagem de Anderson parece superficial. A comédia e o humor negro que permeiam suas cenas não são suficientes para encobrir a falta de um enredo mais coeso. Quando o filme se aproxima de um momento de reflexão ou tensão, ele se perde em suas próprias reviravoltas. A história de Zsa-Zsa Korda, que luta para manter sua fortuna, acaba por se tornar uma série de conveniências narrativas, com poucos riscos sendo tomados.

Por outro lado, há algo de tocante na tentativa de Anderson de explorar, com humor e leveza, a futilidade de planos grandiosos, onde personagens excêntricos se veem presos em suas próprias artimanhas. A sátira à corrupção e à manipulação econômica ainda ressoa, mas a execução deixa a desejar. Talvez o maior problema de “Esquema Fenício” seja a sensação de déjà vu, como se já tivéssemos visto esse filme várias vezes, só que de forma mais aguda, mais envolvente e mais emocionante.

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Foto: Divulgação/Universal Pictures

Conclusão

Por fim, “Esquema Fenício” não é uma obra ruim, mas é certamente uma das mais esquecíveis de Wes Anderson. O filme falha em atingir a mesma magia que seus maiores sucessos, como O Grande Hotel Budapeste e Moonrise Kingdom, deixando no ar a impressão de que Anderson está mais preocupado com o estilo do que com a substância. A produção é competente, mas falta-lhe a alma que faz com que seus melhores trabalhos se destacam como peças inesquecíveis.

Confira o trailer: 

Ficha Técnica
Direção: Wes Anderson;
Roteiro: Wes Anderson, Roman Coppola;
Elenco: Benicio del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera, Riz Ahmed, Tom Hanks, Bryan Cranston, Mathieu Amalric, Richard Ayoade, Jeffrey Wright, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Rupert Friend, Hope Davis, Charlotte Gainsbourg, Antonia Desplat, Bill Murray, Willem Dafoe, Ethan Hawke, Aysha Joy Samuel, Jason Watkins;
Gênero: Comédia,Ação;
Duração: 101 minutos;
Distribuição: Universal Pictures;
Classificação indicativa: 14 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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