“Ser malandra é abraçar a fluidez da existência, permitindo-se ser o que o momento pede, em sintonia com a vitalidade da vida. É transcender a imagem e mergulhar na essência, desafiando convenções para escapar das amarras que nos aprisionam, enquanto honramos tradições ancestrais e rituais sagrados. É encontrar equilíbrio na subversão e na reverência, na rebeldia e na tradição”, explica Fernanda Fontoura, cantora, poeta, escritora, psicóloga e idealizadora da coletiva Samba da Malandra.
Com quatro anos de trajetória, a coletiva agita a cena musical com rodas que celebram as grandes sambistas precursoras, buscando promover a presença feminina em todas as etapas da música, desde a criação até a gestão, da autoria ao instrumental, da concepção à produção, em todas as formas de expressão artística, lideradas por mulheres.
“O samba pulsa em nossas veias como coletiva, alimentando nossa vitalidade. Cada uma de nós vive o samba com intensidade, explorando diferentes nuances, seja do chorinho, do maracatu, do coco, mas todas unidas pela paixão pela música e pelos ritmos que permeiam e enriquecem o samba”, destaca Fernanda. “O samba tem raiz, diálogo com nossos quintais, conta histórias de de nossos ancestrais, ensina práticas coletivas, narra cotidianos, enaltece o simples e cria imbróglios, nós, perturbações e fendas, rachaduras no entendimento dominante”, completa a idealizadora.
A coletiva se inspira na história de grandes mulheres sambistas, reconhecendo nelas exemplos de persistência e resistência. Desde Dona Ivone Lara, Alcione, Leci Brandão, Jovelina Pérola Negra, Beth Carvalho, até Mariene de Castro, Teresa Cristina, Cris Pereira, Elizabeth Maia, Gija Barbieri, Renata Jambeiro e Teresa Lopes, estas últimas da cena do samba do Distrito Federal, a Samba da Malandra carrega consigo a essência e a força do samba em sua jornada.
“As mulheres que se dedicam ao samba enfrentam desafios enormes, exigindo uma dose extraordinária de coragem e persistência. Elas conciliam múltiplas responsabilidades, muitas vezes tendo outras profissões, filhos, parceiros e família, em uma sociedade que ainda espera que as mulheres desempenhem vários papéis”, reflete Fernanda.
- Foto: Tatiana Reis
Composto por Iza do Cavaco, Fernanda Vitória, Nathália Marques, Fernanda Monteiro, Marina Flores, Fernanda Fontoura, Lirys Catharina, Kessy Freire e Luazi Luango, o Samba da Malandra lançou recentemente seu primeiro álbum, “Cantautoras”, celebrando o encontro entre mulheres compositoras, sambistas, musicistas e produtoras musicais. Este álbum marca não só a estreia do grupo, mas também os quatro anos de trajetória da coletiva na cena musical do Distrito Federal.
“Queríamos que este trabalho fosse feito com cuidado artesanal, priorizando a expressão autêntica das compositoras. Buscamos envolver principalmente mulheres em todas as etapas do processo de produção deste álbum. Mais de 90% da equipe que trabalhou nesse projeto é composta por mulheres”, revela Fernanda.
As canções do álbum foram reunidas durante o período de isolamento social causado pela pandemia e refletem as histórias e poéticas das integrantes da Samba da Malandra e de compositoras parceiras do Distrito Federal, resultando em nove composições inéditas assinadas por Fernanda Fontoura, Haynna, Lirys Catharina, Loba Makua, Prethais, Marina Flores e Paola Tainã.
- Foto: Cléa Fernandes/ Bara Comunicação
“São mulheres que já compartilhavam conosco diversos contextos artísticos e musicais. Elas generosamente nos presentearam com músicas que ecoam quem somos. Ao dizerem ‘essa música me lembra vocês’, essas mulheres contribuíram para nossa autoconsciência e identidade de maneira incomparável. É uma honra poder cantar e reverenciar essas mulheres”, destaca a idealizadora do Samba da Malandra.
Antes do lançamento do álbum, a coletiva levou o samba para diversas regiões istrativas do Distrito Federal, participando de rodas e festivais. “Tocar nas ruas de Samambaia durante o Carnaval, participar do festival Haynna e Os Verdes, tocar na Praça do Cidadão em Ceilândia, no festival Ruas Convida e na Ecofeira no Mercado Sul em Taguatinga foram algumas das experiências mais marcantes que vivemos”, relembra Fernanda.
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