A artista brasiliense Flaviana Medeiros, dona da marca “Tem Wifi na Lua” (@temwifinalua), começou sua carreira como colagista (tanto digital quanto analógica) por acaso, durante o ponto alto da pandemia, onde havia vários movimentos externos e internos. Para ela, uma questão importante que interfere diretamente nos resultados de suas obras é o fato de ser taróloga profissional. Os estudos necessários em símbolos, cores, números e outros elementos que compõem esse oráculo somam e muito em suas composições. “Sinto que minhas colagens representam mais meus estados espontâneos, refletindo em cada recorte de revista o turbilhão de coisas que se am dentro de mim”.
Apesar de não ter formação acadêmica em faculdade de artes, você tem uma bagagem que te levou a entender muito sobre a cultura…
O contato com o mundo artístico e suas possibilidades chegou durante a minha fase do ensino médio. Tive a oportunidade de estudar em uma escola pública no Plano Piloto, o Centro de Ensino Médio Setor Leste. Foi ali que a magia aconteceu! Me ver em um espaço tão plural e próximo há vários pontos culturais da cidade abriu minha mente para várias coisas. Já no período da faculdade de publicidade, trabalhei em lugares como uma redação de jornal e até mesmo uma galeria de arte. Com toda certeza, essas experiências somaram no meu repertório artístico e cultural.
Como foi a descoberta da arte da colagem?
A colagem surgiu, de fato, durante a pandemia. Foi em um momento de muitas dúvidas e angústias que me vi ali, procurando formas de preencher alguns vazios. Comecei pela colagem digital mesmo, criando artes para presentear meus amigos. Fui criando, criando, criando, até que cheguei no momento de compartilhar essas criações com o mundo. A ideia inicial era apenas compartilhar, mesmo. Até que chegou uma encomenda (de uma pessoa totalmente desconhecida pra mim) e, mesmo com muito receio e dúvida sobre essas criações, aceitei o desafio e percebi, durante aquele processo, que poderia nascer uma nova carreira.
Assim como outros e outras artistas, você materializa suas produções em temas e sentimentos que flertam com o momento atual…
No começo, era tudo muito orgânico, não existia um script a ser seguido. Mas, com o estudo e a prática, percebi que, de forma fluida e sem muitas amarras, fui criando um processo particular. Sentia muito medo de “perder” a inspiração quando criasse um processo. Mas, percebi que, para amadurecer a minha arte e me profissionalizar nesse espaço, seria necessário uma certa organização. Na prática, faço basicamente as seguintes etapas: curadoria das imagens, conexões dos recortes com o tema que quero falar por meio dessa arte colagem, organização das ideias, combinações e por fim, a colagem de fato.
A colagem exige uma série de estudos necessários até chegar ao produto final?
Acredito que a colagem é um tipo de linguagem onde conseguimos comunicar várias coisas por meio de combinações visuais. Quando você recorta uma imagem que por si só já tem um contexto e dá para esse recorte uma nova história a partir da sua criação, você comunica algo novo com a referência do ado. Acho isso maravilhoso! E como você mesma citou, quando coloco diferentes elementos, consigo ampliar o nível de compreensão da minha arte a algo quase que universal mesmo.
Você faz tanto a colagem digital como a analógica, ambas bem distintas. Pode falar sobre cada uma e a diferença que você enxerga nas suas obras?
De uma maneira mais simples, a principal diferença entre esses dois formatos é a sua fonte: a arte digital nasce no online e a analógica nasce no que é físico, material. E para mim, o ponto comum entre essas duas formas de criação são as mãos. Posso recortar usando um mouse quando se trata de uma criação digital ou até mesmo posso rasgar meus pedaços de revistas quando se trata de papéis. Na colagem analógica, o desafio é ter o a imagens, já que gosto de usar recortes originais e publicados (revistas, encartes de CDs e DVDs, entre outros). Então, a arte de colagem manual já nasce no momento em que estou desbravando esses recortes, fazendo uma curadoria e indo atrás desses materiais.
Você também é taróloga profissional. Como isso interfere ou acrescenta na sua produção artística?
Ok, acho que sou uma pessoa um pouco aleatória, confesso. Mas, por incrível que pareça, foi conectando esses dois mundos (colagem e tarot) que consegui encontrar a minha dentro da arte colagem. Ao contrário do que muita gente pensa, o tarot é uma ferramenta que exige muito estudo e foi com essa bagagem que consegui ter noções básicas para as minhas criações.
Tem algum momento que marcou sua carreira até agora?
Posso considerar que um dos momentos mais importantes dentro da minha descoberta artística foi a primeira exposição que participei. Ver meu nome na parede do Espaço Cultural Renato Russo, junto com outras pessoas maravilhosas em uma exposição coletiva especialmente sobre colagem (fortalecendo esse movimento), me marcou profundamente. Deu início a um novo ciclo no espaço e reabrindo as portas de um dos locais mais essenciais para a cultura da nossa cidade. Foi especial!
Você tem um apego especial por alguma obra?
A primeira é a colagem “Mar de Emoções’’, literalmente a minha primeira arte como colagista. Nela, exponho uma crise pessoal dias antes de um aniversário, onde tudo estava caótico e agitado. E a segunda, é a colagem “Seu Zé”, onde tento mostrar que essa entidade vista com muito preconceito é na verdade, um amigo, um professor, um sábio e que quer ensinar que a vida tem suas regras, assim como todo jogo, e para ar de fase, é preciso encarar os nossos “vilões”.


Quais os planos para o futuro?
A temida pergunta para uma pessoa ansiosa… Brincadeiras à parte, não consigo ver a minha vida sem a arte colagem. É praticamente um caminho sem volta (até que enfim encontrei o meu “talento” que a minha versão adolescente tanto procurava). Para o futuro, pretendo continuar estudando e aprimorando a minha técnica; ampliar minhas colagens para outros formatos e produtos (da minha lojinha); apresentar e ensinar arte colagem para quem quer aprender uma nova forma de se expressar e, ainda esse ano, quero apresentar minhas criações na minha primeira exposição individual. Acho que é (tudo) isso.
Conheça mais sobre o trabalho da colagista Flaviana Medeiros:
@temwifinalua